O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram por videoconferência nesta segunda-feira (6). O diálogo, que durou cerca de 30 minutos, ocorreu a pedido do governo norte-americano e teve tom considerado “amistoso” pelo Palácio do Planalto.
Durante a conversa, Lula solicitou a retirada da tarifa de 40% imposta a produtos brasileiros e a revogação de medidas restritivas aplicadas contra autoridades do país, como o cancelamento de vistos e sanções financeiras ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Encontro presencial em discussão
Lula sugeriu a realização de um encontro presencial, proposta que Trump teria aceitado em princípio. Três possibilidades estão sendo avaliadas: uma reunião durante a Cúpula da ASEAN, na Indonésia, no fim de outubro; um encontro na Conferência do Clima da ONU (COP-30), em Belém, em novembro; ou uma visita de Lula aos Estados Unidos.
Segundo fontes do governo brasileiro, a opção com maiores chances de ocorrer é o encontro na Indonésia.
Trump comentou em tom bem-humorado sobre o último encontro entre os dois, ocorrido nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, quando disse ter tido uma “excelente química” com Lula. Durante a videoconferência, o americano brincou que os contratempos técnicos durante seu discurso na ONU foram compensados pela conversa com o brasileiro: “Pelo menos a ONU serviu para alguma coisa”, teria dito.
Comércio e diplomacia
Trump reconheceu que os Estados Unidos estão sentindo falta de alguns produtos brasileiros afetados pelo aumento tarifário, citando o café como exemplo. Em publicação na rede Truth Social, ele classificou a conversa como “ótima” e afirmou que “Brasil e Estados Unidos terão boas relações comerciais no futuro”.
Do lado brasileiro, participaram da videoconferência o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Sidônio Palmeira (Comunicação) e o assessor especial Celso Amorim.
Em nota, o Planalto afirmou que Lula considerou o diálogo “uma oportunidade para restaurar as relações amistosas entre as duas maiores democracias do Ocidente”. O presidente destacou ainda que o Brasil é um dos três países do G20 com os quais os EUA mantêm superávit na balança de bens e serviços.
Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para conduzir as negociações com Alckmin, Vieira e Haddad.
Repercussão e contexto
Alckmin classificou a conversa como “boa, descontraída e proveitosa”, e disse estar otimista com o avanço nas negociações. “Vamos caminhar para uma relação de ganha-ganha, com investimentos recíprocos e revisão das tarifas”, afirmou.
O encontro marca a primeira conversa formal entre Lula e Trump desde o agravamento das tensões comerciais entre os dois países, após o anúncio das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em julho.
As medidas norte-americanas foram interpretadas pelo governo brasileiro como uma resposta política ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, condenado em setembro pelo Supremo Tribunal Federal a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
Entre as sanções mais recentes impostas pelos EUA estão punições à esposa do ministro Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, e ao Instituto LEX, pertencente à família do magistrado, enquadrados na Lei Magnitsky que permite sanções contra estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos.
Lula, por sua vez, defendeu a retomada do diálogo e mencionou o interesse brasileiro em discutir com os Estados Unidos parcerias para exploração e industrialização de minerais críticos no país. “Queremos negociar com o mundo inteiro, mas com respeito à soberania nacional”, disse o presidente.
Apesar da ausência de avanços concretos, o Planalto avalia que a conversa representa um passo para destravar as negociações e reaproximar os dois governos após meses de tensão diplomática.
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